ABMS propõe comissão única para investigação sobre rompimento de barragem

rompimento de barragemrompimento de barragemO ano de 2015 entra em suas últimas semanas contabilizando os impactos do catastrófico rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 5 de novembro. A barragem pertence ao complexo da mineradora Samarco, e seu rompimento vitimou não apenas pessoas, como também o solo do leito do Rio Doce e arredores, sem mensurar os estragos que os rejeitos estão produzindo no mar. Em editorial divulgado, a diretoria da ABMS ressaltou que “se espera, em primeiro lugar, que o acidente produza lições que possam ser incorporadas à engenharia, resultando na construção de estruturas mais seguras e que tenham seus riscos gerenciados de forma adequada. Isto é o que ocorre, por exemplo, com a aviação comercial. E a sociedade tem esta percepção”.

Segundo o texto da entidade, para que os acidentes gerem lições, é necessário que as comissões de investigação técnica sejam reconhecidamente isentas e de notável capacidade, e que esqueçam empresas e pessoas por trás dos fatos, focando apenas nos fatos, nos métodos e nos processos de engenharia. Outro objetivo dessa comissão seria extrair desse acidente lições que possam levar ao aprimoramento da construção e da segurança de barragens. Na visão da ABMS, o Brasil deveria evitar a criação de múltiplas comissões para investigar o mesmo caso – o que traria mais calor do que luz.

Lição de Mariana (MG)

Segundo a carta, já há uma lição que pode ser tirada do caso Mariana. Um empreendimento de engenharia não pode mais ser visto apenas como a segurança da estrutura em si. É imprescindível estender o entendimento de suas consequências em caso de falha. Está cada vez mais claro que o corpo de engenheiros sempre pensa muito bem na segurança da estrutura e tende a achar que a probabilidade de falha é sempre baixa.

Ficou clara a dificuldade da engenharia em compartilhar com a sociedade seus eventuais potenciais de falhas, ao não informar os danos potenciais a jusante ou não instalar sistemas de alerta. Ou seja, era papel e missão da engenharia prover sempre uma estrutura segura. Por outro lado, a sociedade sempre pensa no pior, ou seja, que a ruptura é certa, e que o único cenário visível é o das consequências das tragédias.

No momento do impacto emocional, surgem propostas pouco razoáveis, como a de simplesmente fechar as mineradoras. Ninguém pensa, no entanto, em fechar fábricas de aviões ou de automóveis depois de um acidente envolvendo esses meios de transporte.

O denominador comum entre a engenharia e a sociedade é a análise e gestão de riscos, que congregam o potencial de falha das estruturas (toda estrutura de engenharia tem potencial de falha) e os impactos (danos) de uma eventual falha. É por esse caminho que a Nova Engenharia passa a agregar a Análise e Gestão de Riscos como elemento de decisão, o que permite, diante de cada caso, propor uma estrutura de engenharia com certo nível de segurança, considerando todas as possíveis consequências de sua eventual falha.